«Paris, 22 de Fevereiro [de 1860] - O realismo deveria ser definido como o antípoda da arte. (...) Na realidade, a menos que se chegasse ao ponto de pensar que bastavam apenas os olhos e a mão para produzir, já não digo uma imitação exacta, mas qualquer obra, seria possível esquecermo-nos que é o espírito que conduz a mão do artista e que portanto, apesar da sua própria vontade de imitar, o leva a imprimir a sua marca específica na obra?
Para que o realismo não fosse uma expressão sem sentido, seria preciso que todos os homens tivessem o mesmo espírito, a mesma maneira de ver as coisas. (...)
O que é que eu encontro num grande número de obras modernas? Uma enumeração de tudo o que é preciso mostrar ao leitor - sobretudo dos objectos materiais, e as descrições minuciosas de personagens, que não são suficientemente caracterizadas pelos seus actos. [...] Na maior parte das obras modernas vejo o autor preocupado em descrever com o mesmo cuidado uma personagem acessória e aquelas que devem ocupar o primeiro plano da cena; ele esgota-se a mostrar-me sob todos os aspectos o subalterno, que só aparece durante um momento, e o meu espírito acaba por se prender a ele, como se ele fosse afinal o herói da história.
O primeiro princípio é o da necessidade de fazer sacrifícios.»
In Eugène Delacroix, Diário (extractos), Edit. Estampa, Lisboa, 1979, págs. 169 e 170.
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No meio do ruído das coisas.
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Duas despedidas tristes: a de Paulo Tunhas (1960), filósofo, cronista,
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Há 1 ano
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