Henri Cartier-Bresson,
Henri Matisse, 1944
«Estes voos sucessivos de pombas, os seus contornos, as suas curvas deslizam em mim como num grande espaço interior. Não pode imaginar até que ponto, nesse período de papéis recortados, a sensação do voo que se desprende em mim que ajuda a melhor ajustar a mão quando ela conduz o trajecto da minha tesoura. É bastante difícil de explicar. Direi que é uma espécie de equivalência linear, gráfica, da sensação do voo. Há também o problema do espaço
vibrante. Dar vida a um traço, a uma linha, fazer
existir uma forma, não é problema que se resolva nas academias convencionais, mas fora delas, na natureza, pela observação penetrante das coisas que nos rodeiam. Um ínfimo pormenor pode revelar-nos um grande mecanismo, um mecanismo essencial de vida. À partida, aprendizes-pintores podem ter o dom da vida das coisas. A maior parte das crianças que pintam têm-no ... Traçam uma figura, aplicam uma cor, estabelecem uma relação e a imagem assim fixada
existe, respira, participa, não é uma coisa morta, uma coisa que se assemelharia, por exemplo, a um velho pedaço de cotão caído de um velho bocado de vida morta... (...)»
Henri Matisse in
Escritos e Reflexões sobre Arte, Lisboa, Ulisseia, 1972, pp. 247 e 248
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